No budismo, existe um termo chamado “Mudita”, onde se refere a alegria empática na capacidade de se alegrar com a felicidade do outro. É uma das quatro virtudes do budismo, conhecida como Brahmaviharas, sendo elas o amor bondade (metta), compaixão (karuna), a alegria empática (mudita) e a equanimidade (upekkha).
Uma vez em um restaurante, o garçom me fez algumas sugestões de entrada, prato principal e sobremesas, onde acatei todas elas, não pela sugestão em si mas sim pela a descrição que me agradava. Em cada etapa que consumia, o garçom vinha com um sorriso no rosto e a fatídica pergunta, “está feliz com a sugestão?”, eu com um leve sorriso, por achar aquele questionamento curioso, respondi “estou sim!”. Isso me fez refletir muito sobre, o que seria essa felicidade em uma sugestão de prato de comida? Por que o garçom se preocupava tanto em “acertar” essa felicidade? Poderia não estar feliz, poderia não ter sido bom, poderia ter sido totalmente diferente, são pratos, são comidas, são gostos, eles podem não ser tão previsíveis como imaginamos, então por quê essa preocupação com a felicidade alheia?
Em um outro momento, andando na rua com amigos dos meus amigos, ouvi um deles perguntar para o outro mais uma vez a incrível pergunta, “você gostou? você está feliz?”. Eu de longe, vendo e ouvindo aquela situação, fiquei atento a resposta que iria acontecer, e óbvio, a resposta foi “gostei, estou sim!”.
A preocupação com a felicidade do outro muitas vezes diz mais de quem pergunta do quem responde. Podendo ser uma busca empática sobre a preocupação do outro, mas também um reflexo de experiências pessoais significativas, como solidão ou isolamento, perda, vulnerabilidade e gratidão. A necessidade constante de buscar a felicidade pode ser maléfica quando se torna uma obsessão ou uma fonte de ansiedade, fuga da realidade e insatisfação crônica com a vida.
A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter, e o tédio de possuir.
Sempre me preocupei em não cair nessa falácia da expedição da felicidade, acreditando mais em uma visão pessimista onde a vida é marcada por sofrimento e insatisfação, e que essa busca só aumentaria esses sentimentos. A felicidade pra mim é um estado transitório, baseado em desejos e necessidades que talvez nunca poderão ser completamente satisfeitos.
Schopenhauer acreditava que a verdadeira felicidade só pode ser encontrada ao transcender a vontade individual. Acreditando que ao desapegarmos dos desejos egoísta, poderíamos alcançar um estado de paz e tranquilidade, onde classificou como “negação da vontade de viver”. Ele via a arte, a contemplação e a compaixão como meios pelos quais poderíamos transcender essa vontade individual e encontrar a forma de felicidade duradoura e significativa.
Nós conseguimos enxergar quando há felicidade em alguém, isso transparece no sorriso, no olhar, na fala, no jeito de pensar e em até a lidar com os problemas ao redor, podendo ser uma felicidade transitória, momentânea ou até a duradoura. Sempre vai existir algum guardião ao seu redor, se preocupando com o seu bem-estar e fazendo questão de demonstrar isso em suas ações, mas até onde vai essa linha da preocupação com o outro?
Seja seu amigo, o seu familiar, o seu amor ou o seu semelhante. O que te faz se preocupar com a felicidade alheia? É a sua vontade empática ou o seu desejo em ter e estar em um ambiente “feliz”?
Referências: