Objetos Transicionais

Ensaio sobre a Loucura
02 Feb 2024

Esse texto é a minha interpretação sobre o uso de Objetos Transicionais na vida adulta, baseado nos textos de referência.

Desde a infância, encontramos segurança e conforto em figuras de cuidado, comumente representadas pela mãe, mas podendo ser qualquer pessoa que desempenhe esse papel acolhedor. Esse refúgio nos protege da confusão do mundo exterior, conhecido como vida.

À medida que crescemos, enfrentamos desafios distantes desse lugar seguro — seja na escola, lidando com a ausência da figura de cuidado, ou aprendendo a dormir sozinhos. Durante esses momentos de aprendizado e distanciamento da proteção dessa figura, muitas crianças desenvolvem apego a objetos, como cobertores ou brinquedos, que simbolizam a segurança daquela figura de cuidado. Para a criança esse objeto é muito importante em momentos de crise emocional e até durante a percepção de que está só e longe da sua figura, tentando buscar o mínimo de segurança no meio do caos.

Em 1951, Winnitcott, descreveu esse fenômeno como Objeto Transicional, onde algo utilizado pela criança para substituir a ausência dessa atmosfera de conforto e segurança. O objeto em si tem significado muito forte para a criança e nem tanto para a figura, trazendo benefícios como: auxílio a lidar com seus primeiros conflitos emocionais, a desenvolver qualidades psíquicas como criatividade, afetividade e empatia, sensação de conforto, companhia, proteção e pertencimento e reafirmação do contato com o mundo externo. Os objetos, podendo ser mais de um, são fundamentais para elas encontrarem as suas próprias maneiras de lidar com os seus sentimentos.

Não é nem a mãe nem o bebê, mas a posse do objeto transicional é uma defesa contra a ansiedade.

Donnald W. Winnitcott 1951

Na fase adulta, os Objetos Transicionais, podem não ser objetos físicos, como cobertores ou brinquedos, em vez disso, eles podem assumir formas mais abstratas, como memórias, hábitos, lugares, atividades especificas ou até relações significativas. Esses elementos podem servir a propósitos semelhantes, proporcionando conforto, segurança em uma maneira de lidar com a ansiedade, o luto ou a qualquer forma de estresse emocional.

O uso de objetos transicionais na vida adulta não é um sinal de regressão ou fraqueza. Pode ser uma parte importante do processo de enfrentamento, crescimento e resiliência. Reconhecer os próprios objetos pode levar uma maior compreensão de si mesmo, das próprias necessidades emocionais e de como lidar com o estresse a mudança. A terapia ajuda o indivíduo a explorar o significado e o papel desses objetos em suas vidas.

O momento da transição ou fenômeno de percepção, é um processo gradual e, muitas vezes, inconsciente. Para criança esse momento é influenciado pelo desenvolvimento de novas habilidades de linguagem e comunicação, onde ela se torna mais capaz de expressas suas necessidades e sentimentos, nas interações sociais e na autoafirmação, onde desenvolve a sua identidade e autoestima. A criança gradualmente encontra novas maneiras de se autoconfortar e lidar com seu estresse emocional, assim deixando de lado a necessidade do objeto.

Infelizmente, na fase a adulta, a percepção é muito mais complexa e matizada. Diferente da infância onde o objeto transicional é frequentemente um item físico, na vida adulta, esses “objetos” tendem a ser mais abstratos e estão intrinsecamente ligados à nossa maneira de lidar com o mundo, enfrentar desafios e processar emoções. O crescimento pessoal, o auto conhecimento, as estratégias de enfrentamento e as mudanças de vida são momentos de percepção da vida adulta que nos fazem perceber que certos “objetos” ou práticas não são mais necessários para a nossa segurança emocional. Terapia e apoio social são fatores fundamentais para nos ajudar no processo de transição, reduzindo a necessidade desses objetos e nos oferecendo apoio e conforto.

A percepção de que não se precisa mais dos objetos na vida adulta não é um evento único ou marco definido, como pode ser na infância. Em vez disso, é um processo contínuo e evolutivo de autoconhecimento, mudança e adaptação. O que é fundamental na vida adulta é o desenvolvimento de um senso de autoeficácia e a capacidade de enfrentar desafios de maneiras saudáveis e adaptativas, reduzindo a dependência de mecanismos de conforto que podem não servir mais ao bem-estar a longo prazo.

Em nossa jornada adulta, os objetos transicionais continuam a ser faróis de conforto e segurança, lembrando-nos de que, mesmo em meio às tempestades da vida, podemos encontrar refúgio e força em pequenos pedaços de felicidade em nossa vida. Embora possa parecer desafiador, o desapego pode ser tão natural quanto o foi na infância, quando nos desprendíamos de nossos brinquedos e cobertores sem sequer perceber.


Quais são os seus objetos transicionais?


Referências: