A filosofia e psicologia exploram a paranóia, destacando sua conexão com a percepção da realidade e a natureza humana. Nietzsche e Freud, com abordagens distintas, veem a paranóia como um reflexo distorcido da realidade. Nietzsche a associa à vontade de poder e às distorções comportamentais sob ameaça, enquanto Freud a analisa como um mecanismo de defesa psicológico, centrado na projeção de desejos reprimidos. Ambos concordam que a paranóia serve para distorcer a realidade, protegendo assim a autoimagem ou crenças pessoais.
Durante uma sessão de terapia, discutindo minhas incessantes paranóias sobre um relacionamento passado, fui tomando pelo entendimento que elas se manifestavam de diferentes formatos, como, insegurança, desconfiança, dúvida e até raiva. O processo terapeutico, me ajudou a entender que essas paranóias, na verdade, eram sinais de uma relação já não saudável, marcada pela falta de comunicação, manipulação e desonestidade. Inicialmente, era mais fácil acreditar que os problemas eram criações da minha mente, ao invés de admitir que eram reflexos do relacionamento. Acreditando que, se estivessem ao meu alcance e sob meu controle, eu poderia resolvê-los sozinho.
Por vezes as pessoas não querem ouvir a verdade porque não desejam que as suas ilusões sejam destruídas.
Lembro-me, de um antigo momento que me veio à mente, em tom de brincadeira, de ter ouvido a seguinte frase: “Se algo acontecer entre nós, você será meu ex-marido, não apenas um ex-namorado!”. Com tamanha ingenuidade, sorri, não percebendo que isso poderia ser um sinal de algo mais profundo. Quem por sua vez teria um pensamento de que um dia teria um ex-marido? Afinal, o casamento não é celebrado com a intenção do ‘para sempre’, sob o juramento de ‘até que a morte nos separe’?
Esses momentos, aparentemente simples e inocentes, escapam muitas vezes à nossa percepção como os primeiros sinais de algo mais significativo. Com o passar do tempo, pequenas atitudes, maneiras de falar e comportamentos vão, sem que percebamos, construindo um terreno fértil para o surgimento e crescimento de futuras paranóias.
A fuga é o instrumento mais seguro para se cair prisioneiro daquilo que se deseja evitar
Hoje, marca três meses da vitória das minhas paranóias, e agora luto com a impotência de enfrentar o verdadeiro campeão. É um desafio compreender que o que tememos e desconfiamos, às vezes, transcende a mera imaginação, ganhando contornos mais concretos na nossa realidade. Existe um amargor em perceber que as sombras que perseguimos podem ser mais tangíveis do que supúnhamos. A grande batalha, agora, é aprender a conviver com a revelação de que nossas inseguranças mais profundas podem efetivamente ter fundamento no mundo real, desafiando-nos a enfrentar não apenas nossos medos internos, mas também as dolorosas verdades que nos cercam.
Como Nietzsche sugere, talvez minhas paranóias fossem uma expressão distorcida da minha vontade de poder, uma tentativa inconsciente de impor ordem em um ambiente já hostil. Freud, por sua vez, poderia interpretar isso como uma projeção, onde medos internos e não resolvidos se manifestavam como desconfianças externas. Em ambos os casos, a paranóia se revela não apenas como uma reação a ameaças percebidas, mas também como um reflexo profundo dos conflitos internos e da busca por significado em uma realidade complexa e muitas vezes confusa.
Referências